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anos. Não é cora números, não é correndo sobre a linha da
história que se pode romper as trevas dos milênios. Não, é
preciso sonhar muito sonhar tomando consciência de que
a vida é um sonho, de que aquilo que sonhamos para além
do que já vivemos é verdadeiro, está vivo, está aí, presente
com toda verdade diante de nossos olhos. Sonho tanto diante
de certas pranchas de Chagall que nem sei mais em que
país estou, em que profundeza dos tempos encontro-me so-
terrado. Ah, que me importa a história já que o passado é
presente, já que um passado que não é o meu acaba de se
enraizar em minha alma e me proporcionar sonhos sem fim!
0 passado da Bíblia é uma epopéia de moralidade. A pro-
fundeza do tempo é redobrada na profundeza dos valores
morais. Os sábios da paleontologia contam-nos uma história
totalmente diferente. Com números ajustados a um calen-
dário de fósseis, falam-nos de um homem quaternário. Ima-
gino perfeitamente bem esse ser que se veste de peles de
animais e come carne crua. Imagino-o mas não sonho com
ele. Para entrar nos devaneios do homem é preciso ser um
homem. É preciso ser um ancestral, ser visto numa pers-
pectiva de ancestrais, apenas fazendo a transposição das fi-
guras que estão em nossa memória. Todos os rostos reunidos
no livro de Chagall são caracteres. Ao contemplá-los somos
tomados por um grande devaneio de moralidade.
De tanto entrar nesses devaneios de moralidade, ultra-
passamos a história, ultrapassamos a psicologia. Os seres
apresentados por Chagall são seres morais, exemplares da
vida moral. As circunstâncias à volta deles era nada per-
turbam a figura central. 0 destino moral do homem encon-
tra aí seus grandes promotores. Junto a eles, devemos tomar
lições de energia destinai, com eles podemos mais corajo-
samente aceitar nosso destino. Assim, um devaneio imemo-
rial nos dá impressões de permanência. Esses ancestrais da
1 BÍBLIA DF, CHACALL 13
moralidade permanecem em nós. O tempo não os desgastou.
Estão imobilizados por sua grandeza. As pequeninas ondas
da temporalidade se aquietam em torno da lembrança desses
ancestrais da vida moral. Um tempo à medida das certezas
da vida moral instala-se no fundo das almas. Na Bíblia
vive-se a história de uma eternidade. Com freqüência, ao
meditar sobre um Profeta de Chagall. vinha-me aos lábios
o dístico de Rimbaud :
Elle est retrouvée!
Quoi? Véternité! '
VI
Mas. para receber todas as riquezas de devaneio que
são os benefícios da obra ilustrada, para também romper o
fio da história que nos dá mais pensamentos que imagens,
creio que é preciso seguir um pouco ao acaso, sem muita
preocupação com a ordem das páginas. Pelo menos foi dessa
maneira que organizei meu prazer.
Então, antes de me aproximar dos Profetas, quis par-
tilhar o arroubo de Chagall quando desenhava as mulheres
da Bíblia. Sem dúvida, a potência de anima das páginas da
Bíblia está mascarada pelo animus dos Profetas. Mas, logo
que nos tornamos sensíveis à solidez do feminino, logo que
medimos a ação destinai da mulher, figuras suaves e fortes
saem da sombra. Que alegria, para mim, ver ilustrados
nomes que são, para um antigo colegial francês, moradas
de devaneios. Corri bem depressa, ao abrir a coletânea, às
páginas que nos descrevem a história de Booz adormecido.
E vi Ruth, mais simples, mais verdadeira do que jamais a
tinha imaginado. Ouso dizer que me deliciei com a síntese
de Victor Hugo e Marc Chagall. Recoloquei a colhedora de
espigas no centro, no cume de meu devaneio de ceifa. Em
nossa época de segadora-atadora, perdemos o sentido da es-
piga. Mas eis que com Chagall lembramo-nos de que são
necessárias muitas espigas perdidas "para ?e fazer um feixe
14 O DIREITO DE SONHAR
e que uma boa colhedora pode tornar-se, com obscura pa-
ciência, a esposa do Senhor dos domínios. Tanto o pintor
quanto o poeta nos remetem à grandeza das origens. Entra-
mos de novo no reino da simplicidade. Não seria essa mu-
lher ereta, com um feixe pesando agradavelmente sobre sua
cabeça, distante das frias alegorias, uma divindade da espi-
ga, a esposa prometida ao homem que faz crescer o trigo?
As mulheres desenhadas por Chagall são fortemente
individualizadas. Darei vários exemplos de seu elevado ca-
ráter. Mas vejam logo a defrontação de Moisés e sua mulher
Séfora. Sentimo-la quase faceira, Séfora. Faceira diante de [ Pobierz caÅ‚ość w formacie PDF ]
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anos. Não é cora números, não é correndo sobre a linha da
história que se pode romper as trevas dos milênios. Não, é
preciso sonhar muito sonhar tomando consciência de que
a vida é um sonho, de que aquilo que sonhamos para além
do que já vivemos é verdadeiro, está vivo, está aí, presente
com toda verdade diante de nossos olhos. Sonho tanto diante
de certas pranchas de Chagall que nem sei mais em que
país estou, em que profundeza dos tempos encontro-me so-
terrado. Ah, que me importa a história já que o passado é
presente, já que um passado que não é o meu acaba de se
enraizar em minha alma e me proporcionar sonhos sem fim!
0 passado da Bíblia é uma epopéia de moralidade. A pro-
fundeza do tempo é redobrada na profundeza dos valores
morais. Os sábios da paleontologia contam-nos uma história
totalmente diferente. Com números ajustados a um calen-
dário de fósseis, falam-nos de um homem quaternário. Ima-
gino perfeitamente bem esse ser que se veste de peles de
animais e come carne crua. Imagino-o mas não sonho com
ele. Para entrar nos devaneios do homem é preciso ser um
homem. É preciso ser um ancestral, ser visto numa pers-
pectiva de ancestrais, apenas fazendo a transposição das fi-
guras que estão em nossa memória. Todos os rostos reunidos
no livro de Chagall são caracteres. Ao contemplá-los somos
tomados por um grande devaneio de moralidade.
De tanto entrar nesses devaneios de moralidade, ultra-
passamos a história, ultrapassamos a psicologia. Os seres
apresentados por Chagall são seres morais, exemplares da
vida moral. As circunstâncias à volta deles era nada per-
turbam a figura central. 0 destino moral do homem encon-
tra aí seus grandes promotores. Junto a eles, devemos tomar
lições de energia destinai, com eles podemos mais corajo-
samente aceitar nosso destino. Assim, um devaneio imemo-
rial nos dá impressões de permanência. Esses ancestrais da
1 BÍBLIA DF, CHACALL 13
moralidade permanecem em nós. O tempo não os desgastou.
Estão imobilizados por sua grandeza. As pequeninas ondas
da temporalidade se aquietam em torno da lembrança desses
ancestrais da vida moral. Um tempo à medida das certezas
da vida moral instala-se no fundo das almas. Na Bíblia
vive-se a história de uma eternidade. Com freqüência, ao
meditar sobre um Profeta de Chagall. vinha-me aos lábios
o dístico de Rimbaud :
Elle est retrouvée!
Quoi? Véternité! '
VI
Mas. para receber todas as riquezas de devaneio que
são os benefícios da obra ilustrada, para também romper o
fio da história que nos dá mais pensamentos que imagens,
creio que é preciso seguir um pouco ao acaso, sem muita
preocupação com a ordem das páginas. Pelo menos foi dessa
maneira que organizei meu prazer.
Então, antes de me aproximar dos Profetas, quis par-
tilhar o arroubo de Chagall quando desenhava as mulheres
da Bíblia. Sem dúvida, a potência de anima das páginas da
Bíblia está mascarada pelo animus dos Profetas. Mas, logo
que nos tornamos sensíveis à solidez do feminino, logo que
medimos a ação destinai da mulher, figuras suaves e fortes
saem da sombra. Que alegria, para mim, ver ilustrados
nomes que são, para um antigo colegial francês, moradas
de devaneios. Corri bem depressa, ao abrir a coletânea, às
páginas que nos descrevem a história de Booz adormecido.
E vi Ruth, mais simples, mais verdadeira do que jamais a
tinha imaginado. Ouso dizer que me deliciei com a síntese
de Victor Hugo e Marc Chagall. Recoloquei a colhedora de
espigas no centro, no cume de meu devaneio de ceifa. Em
nossa época de segadora-atadora, perdemos o sentido da es-
piga. Mas eis que com Chagall lembramo-nos de que são
necessárias muitas espigas perdidas "para ?e fazer um feixe
14 O DIREITO DE SONHAR
e que uma boa colhedora pode tornar-se, com obscura pa-
ciência, a esposa do Senhor dos domínios. Tanto o pintor
quanto o poeta nos remetem à grandeza das origens. Entra-
mos de novo no reino da simplicidade. Não seria essa mu-
lher ereta, com um feixe pesando agradavelmente sobre sua
cabeça, distante das frias alegorias, uma divindade da espi-
ga, a esposa prometida ao homem que faz crescer o trigo?
As mulheres desenhadas por Chagall são fortemente
individualizadas. Darei vários exemplos de seu elevado ca-
ráter. Mas vejam logo a defrontação de Moisés e sua mulher
Séfora. Sentimo-la quase faceira, Séfora. Faceira diante de [ Pobierz caÅ‚ość w formacie PDF ]